Provocar gargalhadas em quem já é bem-humorado é muito fácil, mas… experimente fazê-lo com pessoas mais sérias ou com alguém que, por exemplo, tenha pouco tempo para ouvi-lo.
Se conseguir pelo menos um sorriso sincero de alguém assim, ótimo, você se saiu muito bem. Caso contrário, não se desanime! Trouxemos algumas reflexões que certamente vão inspirá-lo a usar melhor o humor, inclusive, de maneira estratégica – seja em seus textos ou na sua interação com as pessoas.
Qual a definição de humor?
O humor é algo impossível de ser definido completamente em apenas um post. É assunto que sempre cai bem em rodas de filósofos, pois dá muito pano pra manga. Dizem por aí que a própria tentativa de se definir o humor já é uma piada.
Para simplificar o assunto e tentar deixar o texto mais sucinto, vamos, por conta própria, dividir o humor em duas categorias: refinado e popular; respectivamente, uma privilegia a sobriedade e o bom senso e, a outra, a apelação e a exploração. É como se na primeira se buscasse chamar a atenção do público por meio do bom senso e, na segunda, da extravagância.
Ambas as categorias são válidas e têm público. Não estamos aqui na posição de julgar qual é a melhor. Trata-se puramente de estilo.
Alguns exemplos de programas de humor bem-sucedidos que utilizam variados tipos de humor como estratégia incluem ‘Saturday Night Live’, ‘Monty Python’, ‘Porta dos Fundos’, ‘Fábio Porchat’ e ‘Greg News’. Esses programas demonstram como o humor pode ser aplicado em diferentes contextos e formatos, agradando a diversos públicos.
E por que rimos?
Para a Gelotologia, estudo dos efeitos do riso e do humor, o riso ocorre quando encontramos uma quebra de padrão. Por exemplo, é comum vermos pessoas espirrarem em público. Podem-se dar uns três espirros e isso é totalmente normal, mas se o espirro continua se repetindo, por seis ou sete vezes, logo alguém vai esboçar um sorriso, estranhando essa quebra do padrão.
A explicação é que se algo foge daquilo que é o esperado, o cérebro reage e tenta resolver aquela “falha” – é quando vem a risada. Entretanto, para que a graça continue, o fator surpresa é fundamental, pois, a partir do momento que nos familiarizamos com a quebra do padrão, o motivo da graça se exaure. Por quê? Porque a surpresa é fator fundamental no humor.
Sabendo disso e tendo em vista a definição de Aristóteles de que o humor é “uma desarmonia de pequenas proporções, sem consequências dolorosas“, podemos concluir que a fronteira entre o humor e o dissabor é a proporção da desarmonia. Não pode haver “consequências dolorosas”.
Quais são as funções do humor?
O humor pode ser uma forma de sedução? Talvez sim. Dizem que mulheres gostam muito da companhia de quem as fazem rir. Não só elas! Quando bem utilizado, o humor desperta a simpatia e a admiração tanto de homens quanto de mulheres.
Mas o humor não deve se tornar um hábito contumaz. Ao conversar com alguém que esteja em situação de conflito, esse ingrediente pode causar uma reação desagradavelmente inesperada. Afinal, um conflito deve ser tratado com seriedade. Assim, nesses casos, geralmente, o humor pode soar como falta de consideração e de sensibilidade.
Quando bem aplicado, o humor também é uma forma de expressar inteligência. Ficamos admirados quando uma pessoa consegue fazer de momentos corriqueiros uma experiência bem-humorada. O humorista consegue ver as coisas cotidianas assim como as vemos, mas, também, pode enxergá-las como um turista experienciando a cultura e as atratividades de uma cidade que visita pela primeira vez.
Então, que tal começar a inserir a estratégia do humor em seus textos? A seguir daremos algumas dicas. Mas, antes de começarmos com as dicas, é importante destacar a importância do timing ao fazer uso do humor, seja na escrita ou na interação pessoal. O timing certo pode tornar uma piada ou comentário bem-humorado mais eficaz, enquanto um timing inadequado pode resultar em constrangimento ou mal-entendidos.
Para deixar mais claro, o timing é aquele momento ideal para realizar algo, especialmente em situações que envolvem comunicação, humor ou interações sociais. Dominar o timing é fundamental para se obter o efeito desejado ou, pelo menos, causar o menor impacto negativo possível.
Vamos a um exemplo de bom timing? Um comediante que conta uma piada no momento exato em que o público está mais relaxado e receptivo, conseguindo, assim, provocar risadas e aumentar a conexão com a plateia.
Um exemplo de mau uso do timing é contar uma piada ou fazer um comentário humorístico em uma situação inapropriada, como durante um funeral ou em um momento de tensão, podendo causar desconforto e constrangimento entre os presentes.
1. Entenda o processo de representação do humor
Antes de o humorista representar, ele precisa experimentar o humor; deve sentir o impacto de sua comicidade em si mesmo para, então, conhecê-la. A partir daí, ele pode representar o humor adequadamente, replicando, para o seu público, a mesma comicidade por ele experimentada.
Em outras palavras, o bom humorista consegue, antes, ver-se com a perspectiva do outro (fenômeno conhecido como “estranhamento”) e, em seguida, faz com que seu público perceba certas coisas corriqueiras, de repente, como algo desconhecido, estranho.
2. Veja o humor como um ingrediente comunicacional
O humor é um ingrediente comunicacional – e não o produto em si. Portanto, ele deve ser bem dosado e devidamente contextualizado. Como disse o médico e físico Paracelso, “a diferença entre o remédio e o veneno é a dose”.
Assim como abrimos e fechamos a torneira do chuveiro elétrico de acordo com a temperatura do ambiente, o humor deve ser utilizado, mais ou menos, de acordo com a temperatura da relação. Não é recomendável brincar irrefletidamente com quem não temos algum tipo de aproximação.
Além disso, quando a comunicação é mais abrangente, é importante adaptar o humor aos diferentes públicos e contextos, levando em consideração as preferências e sensibilidades culturais. Isso pode ajudar a garantir que o humor seja apreciado e bem recebido, em vez de causar ofensa ou desconforto.
Embora esteja disponível nas mais diversas situações do dia a dia, o humor é uma “matéria-prima” difícil de ser coletada, pois é preciso perspicácia e sensibilidade para encontrá-la; portanto, gastá-la a torto e a direito pode provocar mais embaraços do que sorrisos.
3. Diferencie humor de paspalhice
Por fazer humor, entenda que não estamos nos referindo ao estrambólico comportamento de um paspalho.
O humorista que trabalha com a categoria de humor popular pode não se preocupar, por exemplo, com o emprego da moderação. Ele apela justamente para aquilo que pode ser aberrante e espalhafatoso – mas tudo é feito estrategicamente, seguindo um script. Já o humorista da categoria de humor refinado tem uma narrativa mais sóbria e sutil, o que demanda do público uma dose mais aprofundada de inteligência.
4. Evite o trágico
A comicidade é um ingrediente capaz de tornar a comunicação mais leve e atrativa. Entretanto, teimar em fazer graça em situações impróprias é uma das piores falhas comunicacionais. Ao invés de retornar sorrisos, o mais provável é colher as consequências de um desprazer do interlocutor.
No início deste post citamos Aristóteles definindo o cômico como “uma desarmonia de pequenas proporções, sem consequências dolorosas“. Veja como isso corrobora totalmente com a famosa expressão popular, “seria cômico se não fosse trágico”. Ou seja, o trágico não está contido na fórmula do humor.
Contudo, por que é tão comum darem tantas gargalhadas durante quadros como “Videocassetadas”, no qual, certamente, muitas pessoas são prejudicadas, inclusive, com fraturas e torções graves? A resposta mais plausível para essa questão talvez seja porque, simplesmente, cortam o trecho trágico das “cassetadas”.
Recapitulando
O humor valoriza a comunicação. Parafraseando o Paracelso, “a diferença entre o humor e o incômodo é a dose [de bom senso]”. É preciso saber qual tipo de humor é o mais indicado para cada público. Uma brincadeira mal elaborada torna-se vulnerável tanto ao dessabor (insipidez) quanto ao dissabor (incômodo).
Não importa se nos comunicamos presencialmente ou por meio da escrita, o humor pode ser um grande aliado. Por exemplo, ao tratar de um tema muito denso, uma dose de humor pode cair bem, pois relaxamos as tensões dos nossos interlocutores ou leitores, abrindo assim a receptividade daquilo que estamos abordando.
O palestrante e o escritor podem encontrar no humor uma ferramenta muito eficaz para captar a admiração do seu público e, inclusive, o compartilhamento, a “viralização” do seu conteúdo.
Última dica
Outro aspecto interessante do humor é sua aplicação no ambiente de trabalho. Ao utilizar o humor de maneira adequada, é possível aliviar o estresse, aumentar a criatividade e, inclusive, melhorar a comunicação e colaboração entre os colegas. No entanto, também é importante estar atento aos limites do humor no local de trabalho e à necessidade de consideração e respeito pelos colegas.
Essas foram as nossas reflexões acerca do humor como estratégia para valorizar a comunicação. Nossa última dica a respeito do texto humorístico é: não se esqueça da Revisão do Texto. Imagine-se captando, no pensamento, uma bela cena humorística e adaptando-a à situação ideal e, na hora “h”, o texto (ou a fala) fica mal elaborado. Melhor nem pensar, não é mesmo?
Então, se precisar, conte com a nossa equipe de revisores profissionais. Temos experiência nos mais diversos tipos de textos e nos atentamos principalmente para aquilo que é o mais importante: a mensagem por trás de cada texto escrito ou falado – incluindo as sutilezas que podem se ocultar nas entrelinhas da narratividade.
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Ótimo artigo, gratidão!
A pergunta “E por que rimos?” me evocou um conto genial do Isaac Asimov, onde ele questiona de onde vêm as piadas, chegando à conclusão de que são um experimento alienígena!
Que conclusão interessante do Isaac Asimov, Fabio Shiva! Vamos tentar encontrar esse conto dele. Juntando a teoria da Gelotologia com o pensamento do Isaac Asimov, talvez possamos dizer que estamos cada vez mais próximos de uma resposta a essa curiosa questão! Uma honra termos um comentário seu aqui em nosso blog. Sua entrevista foi linda.
Gratidão por essa energia boa, amigos!
Encontrei o conto aqui, o título é “Brincalhão” (“Jokester”) e está no livro “A Terra Tem Espaço” (“Earth is Room Enough”).
E viva a nossa maravilhosa capacidade de rir!
Maravilha! Agora ficou mais fácil achar o conto. Somos gratos por sua generosidade, querido Fabio Shiva!