Repetições excessivas causam desconforto à leitura e dificultam a transmissão de ideais. Em outras palavras, não cumprem bem o objetivo de comunicar, porque criam obstáculos para o leitor. Arriscamos dizer, por isso, que se a produção textual fosse um personagem de narrativa clássica, sem dúvidas, a repetição excessiva de elementos seria um dos maiores vilões da história.
Pensando em ajudar vocês – os nossos protagonistas da jornada de produção escrita –, mostraremos neste artigo: como a oralidade influencia para que esse fenômeno ocorra na escrita; o motivo pelo qual esse tipo de ocorrência deve ser evitado em produções formais; a perspectiva sobre o conteúdo literário; e algumas maneiras assertivas de conduzir o texto sem que ele se torne demasiadamente repetitivo.
A oralidade e sua influência nas repetições excessivas
Antes de chegarmos à solução do problema, é preciso destacar a causa principal. Em nossa fala, frequentemente, repetimos expressões para ganhar tempo enquanto formulamos um pensamento. A repetição de palavras é uma característica muito presente na oralidade. Por essa razão, encontrar tal propriedade na escrita nos causa estranheza – até repulsa, alguns diriam.
Como comprovação, basta observar uma fala que transcorra em uma situação informal; então, em apenas alguns minutos, perceba a quantidade de elementos que vão se repetir naturalmente ao longo dessa interlocução.
São muitas as possibilidades de observação desse fenômeno na fala. Sendo assim, uma sugestão bem acessível de materiais para analisar são os áudios em aplicativos de conversas ou até mesmo os vídeos caseiros disponíveis na internet – é importante que não sejam os vídeos profissionais, pois nesse tipo de mídia, geralmente, há mais monitoração do conteúdo e as repetições tendem a ser eliminadas.
Sintetizando: o problema ocorre quando não há uma fronteira bem definida entre a linguagem oral e a escrita, por isso, as características peculiares de cada modalidade se misturam e causam desordem no texto.
Entenda por que as repetições excessivas devem ser evitadas na escrita
Diferentemente do que ocorre na fala, a repetição é dispensável e inadequada na escrita, uma vez que temos a grandiosa vantagem de monitorar o que estamos transmitindo e, dessa forma, conseguirmos mais êxito na comunicação – cá entre nós, até mesmo na fala, o excesso pode causar desconforto.
Do mesmo modo, também não queremos que o leitor se sinta entediado ao ler nossos escritos, que encare nossos textos como prolixos ou até pense que o nosso repertório vocabular é limitado.
Produções literárias – a exceção
Contudo, vejamos o poema abaixo retirado do livro A imaginária janela aberta, de Lêdo Ivo, em que o elemento “e” aparece sete vezes no início dos versos.
Nascimento do dia
Entre os armazéns e silos
nasceu a aurora
e seu leve rubor de inocência
iluminou a fachada da alfândega
e a oscilante canoa dividida
entre o dia puro e a luz de um candeeiro.
E cuspindo no mar o pescador
guardou todas as sobras de uma noite de constelações e cargueiros
e colinas de cebolas e açúcar mascavo
e criaturas enlaçadas na treva
e sonhos suspiros e labirintos de enxofre
e crustáceos incrustados no casco
das dragas enferrujadas.
(Lêdo Ivo)
Nesse sentido, se as repetições excessivas não são recomendáveis para produções acadêmicas ou de cunho mais formal, uma exceção é aberta apenas às produções literárias.
A prática é totalmente aceitável nesse tipo de texto, pois o autor tem a liberdade de empregar a estratégia de repetição com uma finalidade estilística para conferir ênfase a determinados elementos, se assim desejar.
A solução
Então, se as repetições excessivas podem ser o fator capaz de desclassificar, por exemplo, uma produção argumentativa que exija certo grau de formalidade, a substituição é o que vai conferir valor e elevar a qualidade nesse sentido.
Há muitas formas de substituir os elementos em um texto. O método pode se dar por meio da antecipação dos elementos (catáfora) ou da retomada (anáfora). Elencamos algumas maneiras de substituição que podem ser empregadas no contexto da sua produção:
- Substituição por pronomes
- Substituição por nomes
- Substituição por verbos
- Substituição por numerais
- Substituição por advérbios
- Substituição por elipse
Normalmente, os pronomes dão conta de substituir boa parte dos itens, mas é interessante que a substituição por elipse e também por palavras de outras classes (nomes, verbos, numerais, advérbios) sejam empregadas para enriquecer e diversificar o texto.
Demonstração na prática
Veja o fragmento abaixo. Ele foi retirado de uma situação de comunicação real e apresenta desvios das mais diversas ordens, principalmente quanto à coesão textual, isto é, repete determinados elementos de maneira excessiva e não estabelece uma conexão satisfatória entre os itens do conjunto. Observe:
I. Texto a ser revisado
Além dos destaques gráficos, para que os fenômenos apresentados fiquem ainda mais evidentes, a equipe de revisão da Mundo Escrito solucionou os problemas no texto, a fim de ilustrar claramente o motivo pelo qual devemos nos importar com o estabelecimento de uma boa coesão. Isso é o que vai resultar em um conjunto textual bem conectado, no qual os elementos não se reproduzem de maneira exagerada.
II. Texto revisado com alterações marcadas (versão controle)
III. Texto revisado com alterações aceitas (versão final)
O leitor atento vai perceber que algumas alterações foram opcionais; outras, extremamente necessárias. Assim como é fácil notar que, após as modificações, o texto ganhou mais fluidez e objetividade. Viu como a repetição pode ser prejudicial ao seu texto?
Diante de tudo isso, fica claro que o domínio das estratégias de substituição é fundamental para um texto de qualidade.
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