Qual o melhor ambiente para criar e escrever? Esse é um assunto muito caro aos escritores. Afinal, existe um local ideal para realizar essa tarefa tão indispensável a nós? Quais são, de fato, as ferramentas que um escritor deve ter à sua disposição? Seria o ambiente uma dessas?
Descubra neste conteúdo feito especialmente para auxiliar as suas produções, sobretudo, literárias.
Ambiente para criar e escrever
Tudo começa por aqui: tem dias em que você acorda sem inspiração. Sem inspiração? Ins-pi-ra-ção?! Tem certeza?! Quer dizer, então, que isso deixou de ser apenas uma ideia assustadora e veio habitar entre nós, reivindicando um espaço que não é seu? Mais do que isso, você vive a experiência de que lhe falta talento.
Quem nunca sentiu isso? Do ponto de vista da produção literária, o dia fica arrastado. Tudo leva a crer que o produto final será desanimador — por certo, ninguém o compraria. É como se as palavras tivessem fugido, numa viagem sem bilhete de volta. Nenhuma frase. Nenhum artigo.
Você insiste. Pisa no acelerador. Mas o cérebro não responde. Ele parece um motor em vias de sofrer uma pane e abandoná-lo exatamente no meio do nada. Tem alguma ideia lá dentro? Em que lugar ela se esconde? E, mais, por que não obedece ao seu comando? Por ser o centro do pensamento, o cérebro se arroga o direito de decidir o momento certo de falar e de calar?
De sua parte, você sabe que já identificou o assunto sobre o qual deseja trabalhar. Elaborou um mapa mental rico em detalhes. Acumulou informações em volume suficiente, porque “saco vazio não para em pé”. Depois de cobrar uma resposta fornecida pelo consciente, preguiçoso, delegou a tarefa ao inconsciente, que trabalha enquanto você atende a outras demandas. E está atento, olhando estrelas, ouvindo pessoas, pensando em toda morte que nos ameaça e sacrifica, amando, folheando antigas revistas, conversando com o clérigo, lendo anúncios, ouvindo uma canção do passado, provocando respostas, enfim. A qualquer momento, ao ser perguntado pela dupla de criação, o jardineiro da agência de propaganda que tem a conta publicitária da Coca-Cola, pode responder que Coke is it! e entregar, pronto, o novo slogan do produto. “Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça”, disse Jesus. Ouça e anote.
Como já aconteceu em outras ocasiões, você conhece bem o conteúdo com o qual deseja trabalhar, tanto quanto os publicitários do fato verídico conheciam o refrigerante. Sabe traduzi-lo em palavras e deseja obter e compartilhar o melhor resultado com os seus leitores. No entanto, para o seu desespero, nada acontece. A não ser a passagem do tempo, insensível como sempre.
Por isso, naquele dia, você pede que não esperem nada valioso com a sua assinatura. Afinal, você sabe que vai decepcionar. É só esperar para que vejam. Certamente, vão dizer que tudo não passa de autossabotagem. Que você não saberia como conviver com a alegria de produzir um texto e vê-lo nas mãos de tanta gente. Então, para evitar a experiência realizadora, provoca, de maneira inconsciente, a sua inviabilidade.
Você foi aprisionado por um sentimento que alguns chamam “a maldição do escritor”, cuja libertação se obtém pela crença de que tudo pode ser vencido quando se é devoto de São Hemingway, protetor dos Reescritores Aflitos. Ela consiste em negar ideias, respostas interessantes e transformadoras a quem, por prazer ou dever de ofício, está disponível para essa liturgia da palavra, uma palavra que se pretende bem dita.
Não por acaso, você sempre diz e repete: “Não sei por que as pessoas não me entendem”.
E, não raro, começa a pensar que tem de desistir da profissão de escritor, porque acredita que este é o sonho de uma elite e que você não faz parte desse grupo de privilegiados. José Saramago discorda. Ele garante que:
“Somos todos escritores, só que alguns escrevem, outros não.”
De ausências e procuras de ambientes propícios à escrita
E, agora, pergunto, do que você está falando? De que ausência? Da falta que faz um adequado ambiente para criar e produzir algo relevante. A propósito, você não sabe como os escritores lidam com esse desafio. É difícil aceitar a verdade, segundo a qual todo espaço é o melhor ambiente do mundo quando se tem a fagulha de uma ideia e o desejo de ser o artesão, o protagonista. Acredite: a mesinha de um bar despretensioso, um guardanapo e uma caneta Bic sem tampa são suficientes para se começar o storyline de Guerra e paz. Tudo é uma questão de preferência. E isso só depende de você.
Não sou eu quem diz. Muito antes de mim, William Faulkner afirmou que a arte não tem nada a ver com o ambiente. Para comprovar, conta que seu melhor emprego, nesse sentido, foi como zelador de um bordel.
E então nos perguntamos: um bordel é um bom ambiente para criar e escrever? Para Faulkner, sim. Segundo ele, um bordel proporciona liberdade econômica, deixa-o livre do medo e da fome, fornece um teto que o protege e dá pouco trabalho. No mais, aí ele tem à sua disposição um cenário que oferece muitas oportunidades para ver o que todos viram, mas nem todos enxergaram, e produzir o que há de melhor na literatura. Exatamente como fez em toda sua carreira de escritor que esbanjou virtuosismo.
“De modo que o único ambiente de que o artista necessita é qualquer lugar onde possa obter paz, solidão e prazer a um preço não muito alto.”, ele diz e conclui, deixando-nos sem ter para onde fugir quando o assunto é justificar a ausência de produção devido à falta de um lugar adequado: “Minha própria experiência tem me mostrado que as únicas ferramentas de que preciso para o meu ofício são papel, tabaco, comida e um pouco de uísque.
Sem estresse, por favor: envelhecida, a cachaça brasileira já tem padrão internacional. O vinho também. Procuremos agora um bom ambiente para criar e escrever!
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