Aposto que você, escritor, já ouviu a famosa expressão “mostre, não conte”.
Se pararmos para refletir sobre esse conselho, perceberemos que ele não é completamente verdadeiro. Na verdade, um bom escritor, ao narrar uma história, deve saber exatamente quando algo deve ser contado e quando algo deve ser mostrado.
Será que você sabe como aplicar esses conceitos na prática?
Vamos descobrir!
Para narrar os acontecimentos de uma trama, o autor pode recorrer a técnicas como flashbacks, diálogos, monólogos, descrições etc. Mas o que diz a parte técnica por trás desses conceitos?
A seguir, irei lhe apresentar duas palavras-chave que vão mudar o modo como você enxerga a construção de uma narrativa: as cenas e os sumários.
Como narrar uma história por meio de cenas
As cenas são importantes para definir o ritmo de uma história. Essa técnica literária representa as ações que são mostradas pelo narrador enquanto acontecem.
Para explicar melhor esse conceito, podemos considerar o cinema. Quando assistimos a um filme, testemunhamos uma sequência de ações que acontecem em tempo real. Percebemos essas ações porque elas são mostradas enquanto acontecem — a não ser quando o diretor faz uso de técnicas para contar acontecimentos anteriores por meio de flashbacks.
Assim, em um texto narrativo, as cenas são aqueles eventos que lemos como se estivessem acontecendo na frente de nossos olhos, e os quais nos deixam livres para observarmos e interpretarmos à nossa maneira. Geralmente, a narração acontece no presente do indicativo ou no pretérito perfeito.
Dessa forma, as cenas compõem uma parcela importante nos textos narrativos. Um conto, talvez, poderia ser inteiramente narrado por meio de cenas. Mas será que elas seriam suficientes para compor um romance inteiro?
Como narrar uma história por meio de sumários
Uso a introdução deste tópico como deixa para responder à pergunta acima: dificilmente um romance poderia ser composto integralmente de cenas.
É aí que entram os sumários! Eles representam as passagens de uma história que o autor opta por contar em vez de mostrar. Essa técnica serve para retomar acontecimentos passados e fornecer contexto.
Na prática, os sumários são eficientes para abreviar o tempo e conectar acontecimentos que o autor opta por não mostrar. A sumarização também pode fazer transições importantes dentro de um romance, além de trazer revelações cruciais para o desenrolar da trama.
Os sumários podem representar uma grande parcela de um romance. Textos narrativos de cunho introspectivo como costumamos ver na obra de Virginia Woolf e Lygia Fagundes Telles, por exemplo, podem ser quase completamente compostos de sumários.
Logo, não podemos dizer que “mostrar em vez de contar” é uma verdade irrefutável para narrar uma boa história, concorda?
Tudo é uma questão de estilo e, principalmente, de equilíbrio!
Como encontrar o equilíbrio entre cenas e sumários?
Sabemos que, para que uma história progrida, ela precisa de passagens que façam o enredo avançar ao mesmo tempo em que revelam e iluminam traços das personagens.
Geralmente, esse trabalho é realizado por meio de uma combinação inteligente entre cenas e sumários.
Quando um autor faz com que as cenas e os sumários se complementem ao narrar uma história, a progressão da narrativa se torna fluida.
Mas como decidir onde inserir cenas e sumários?
É simples — basta visualizar a trama da sua história e todos os elementos que a formam. Certamente, existem eventos que vão acontecendo à medida que a narrativa progride, independentemente de serem complexos como uma batalha entre nações ou simples como uma caminhada para comprar flores.
O escritor pode mostrar esses acontecimentos por meio de cenas ao leitor, que se torna um observador direto daquilo que lê.
Entretanto, nem sempre é possível introduzir todos os elementos de uma história por meio de cenas. Muitas vezes, a narrativa precisa situar o leitor sobre eventos passados — seja um acontecimento isolado, seja a história de uma vida inteira. Para isso, a sumarização é ideal, pois comprime o tempo em uma passagem e forma “pontes” entre as cenas.
Cenas e sumários na prática
Como vimos neste artigo, as cenas são da ordem do movimento, enquanto os sumários são da ordem da descrição. E não existe fórmula para tecer esses elementos em uma trama. Ao narrar uma história, um escritor pode determinar que tipo de composição representa melhor o seu estilo.
Por exemplo, existem romances que são iniciados por sumários. Podemos notar isso quando o escritor abre um texto de ficção utilizando-se da narração de um acontecimento passado que serve de gatilho para os demais eventos da história. Essa prática situa o leitor e o prepara para as cenas que poderão vir imediatamente a seguir.
Para exemplificar, observemos a introdução de “Um Amor Incômodo”, da autora Elena Ferrante:
“Minha mãe se afogou na noite de 23 de maio, dia do meu aniversário, no mar de um lugar chamado Spaccavento, a poucos quilômetros de Minturno.”
Da mesma forma, o autor pode optar por narrar uma história de modo diferente e iniciar o primeiro capítulo já com uma cena. Essa tática é ótima para definir um clima mais imediato e dramático, podendo até mesmo causar certo estranhamento intencional ao leitor.
Veja, então, a introdução de “Verão no Aquário”, de Lygia Fagundes Telles:
“Ele veio vindo silenciosamente. Inclinou-se sobre a minha cama. Seus dedos transparentes quase tocaram no meu ombro: “Raíza, Raíza!” Tinha uma rosa em lugar do rosto, mas o hálito adocicado era de hortelã. Papai, você bebeu outra vez!”
E aí, como você vai narrar sua história?
Viu só como os elementos técnicos de narração podem fazer toda a diferença na hora de narrar uma história? Saber mostrar é, sim, crucial para a literatura, mas saber contar é outro segredo para construir uma boa trama.
Está determinado em aperfeiçoar a narração da sua história? Leia também “Como aprimorar textos narrativos [2 dicas de Aristóteles]”.
Por fim, se você se sentiu inspirado a colocar em prática essas técnicas, não se esqueça de se inscrever no blog para receber mais artigos como este!
Olá, bom dia!
Meu nome é Alexandre Panaia, e eu atualmente estou encabeçando um conto sobre romance, drama e terror, mas eu algumas dúvidas de como narrar certos acontecimentos de uma cena em questão. Eu gostaria de saber exatamente como utilizar diálogos em alguma de um conto. Eu ficarei muito grato se esta dúvida pudesse ser tirada de mim.
Oi, Alexandre! Talvez você se interesse por este artigo: “Funções do diálogo” Depois compartilhe conosco se você gostou. Abraços!
Gostei das dicas, uma vez que foram esclarecedoras, principalmente para mim que estou me jogando nos mares da escrita.
Queria muito poder contar minha história sofri muito e queria deixar como exemplo de superação pra outras pessoas é um pouco aterrorizante oque passei mais mesmo assim queria contar alguém me ajuda por favor
Oi, Maria da Conceição! Somos gratos pelo seu comentário. Toda história, seja ela agradável ou dolorosa, quase sempre tem algo que sirva de inspiração para outras pessoas. Mas a forma como é contada cada história é o que faz a diferença. Sugerimos que você mesma escreva a sua história, narrando cada detalhe importante, e reflita sobre tudo que você aprendeu com ela (pois ela é parte da sua experiência de vida); se você tem dificuldade para escrever, esforce-se para, pelo menos, narrar a sua história completa, da forma exata como ela aconteceu, de uma forma que qualquer pessoa possa entender. Pense que está escrevendo para uma criança de 10 anos de idade. Isso pode ajudar muito. Depois, ou você mesma vai relendo a sua história e fazendo os ajustes necessários (acrescentando informações importantes ou retirando informações desnecessárias) para deixá-la cada vez mais clara e atraente ou procura alguém de sua confiança que possa te ajudar. Há também a possibilidade de contratar o serviço de um ghost writer. Boa escrita!