Muita gente tem dificuldade em escrever, e, na prática, isso não deveria ser assim. Entendemos que a escrita, antes de julgada difícil, deveria ser mais compreendida.
Além de ser um instrumento de comunicação, a escrita é uma extensão da voz humana, pois aumenta o raio de alcance daquilo que enunciamos; para além disso, a escrita também representa a cultura, a identidade do enunciador. Ela é um drive de expansão da voz, carregado de valores.
É graças à escrita que as vozes de tantos autores de séculos passados permanecem vivas; elas continuam ecoando em seus livros, falando aos leitores e influenciando-os, nos mais longínquos e variados lugares do mundo.
Por esses – e tantos outros – motivos, será que não valeria um esforço, um empenho a mais pela aquisição da escrita?
Onde está a dificuldade no ato de escrever?
As questões “por que é mais fácil ler do que escrever?” e “por que é mais fácil ouvir do que falar?” retornam respostas quase automáticas, pois, naturalmente, intuímos que a leitura concentrada consome menos energia que a escrita – assim como a audição atenta consome menos energia que a fala. Logo, concluímos que ler e ouvir, respectivamente, demandam menos gasto de energia do que escrever e falar.
Agora, surge uma terceira questão: “Por que a tendência da maioria das pessoas é falar mais do que ouvir?” Acreditamos que isso se deve a alguma motivação psicológica, provavelmente já conhecida pelos psicólogos.
Aqui, nossa intenção não é responder a essa pergunta. Queremos apenas usar esse fato como ponte para uma nova reflexão: Será possível tornar a escrita tão simples quanto o ato de falar? Nós acreditamos que sim.
Na fala, quando precisamos nos comunicar emitimos sons vocais carregados de significados – as palavras. Estas, quando alcançam os ouvidos do interlocutor, são capazes de transmitir com precisão aquilo que desejamos: uma pergunta, um pedido, uma crítica, um elogio etc.
Aprendemos o processo da fala desde quando ainda éramos crianças. Hoje esse processo acontece de maneira automática, e nem mesmo nos lembramos como se sucedeu tal aprendizado. Simplesmente internalizamos os processos da fala e, agora, nosso cérebro já não encontra qualquer resistência para transformar pensamento em voz.
É possível internalizar a escrita?
Neste artigo, ao empregarmos o termo “internalização” não estamos nos referindo aos mesmos conceitos desenvolvidos por Vygotsky. Por internalização queremos nomear aquele estado em que a execução de uma tarefa se torna tão natural quanto o ato de falar, andar e respirar.
Dito isso, nossa pergunta principal é esta: se nos foi possível internalizar o processo da fala, por que não poderíamos internalizar também o processo da escrita?
Para aprendermos a falar, primeiro ouvimos. A mãe, encantada com o bebê, geralmente fala com ele como se realmente estivessem dialogando. As palavras mais comuns são mamãe, papai, mamar, papar; depois titio, titia, vovó, vovô etc.
De tanto escutar, a criança começa a associar os sons aos seus respectivos significados. Então, um dia, ela começa a balbuciar, até que, enfim, consegue repetir cada som sob o estímulo dos aplausos calorosos da família.
Quando falamos, também utilizamos gestos e expressões faciais. Instintivamente sabemos o quanto esses elementos são importantes na comunicação. Usamos igualmente as entonações que facilitam, por exemplo, a diferenciação entre uma pergunta e uma afirmação (Estou bem. Estou bem?).
Na escrita, as expressões faciais e as entonações são comunicadas (transmitidas) por meio da pontuação e de outros elementos gráficos.
Assim como a fala, a escrita
Já vimos que o processo da fala acontece de maneira gradual. Então, acreditamos que também assim deve ser com a escrita.
Se aprendemos a falar ouvindo, analogamente acreditamos que o melhor meio de se internalizar a escrita é lendo.
Mas, enquanto lemos, é bom que também estudemos uma boa gramática. Acredite, ela pode ser nossa amiga. Por meio dela é possível facilitar o processo de aquisição da escrita.
Ainda que professores despreparados tenham feito da gramática uma ferramenta de tortura para os seus alunos, não foi para esse fim que ela foi criada. Seu objetivo é estabelecer uma padronização para a linguagem escrita.
Portanto, sugerimos evitar as gramáticas normativistas, ainda presas a normas já ultrapassadas para a nossa realidade linguística. Dê preferência a gramáticas que se baseiem na prática de análises linguísticas e que vejam a língua como algo vivo e em constante transformação.
O processo de internalização da escrita pode não ser tão demorado quanto o da fala, se levado a sério. E as vantagens que advêm da aquisição da escrita devem ser sempre trazidas à memória. Vale a pena todo e qualquer esforço.
E o mais interessante é que a internalização da escrita não é um processo chato, como ir à escola e ser supliciado por um professor arreliento. Ao contrário! Escrever é uma conquista, é uma ferramenta que pode nos dar poder e prazer. Em cada fase do aprendizado, podemos encontrar novas possibilidades e inspiração.
Resumindo…
1) Leia, tanto quanto lhe seja possível, os mais diversos tipos de textos: gibis, jornais, revistas, romances, artigos acadêmicos, manuais, poesias, tudo! Quanto mais gêneros puder ler, mais poderá aprender sobre as novas formas de se comunicar pela escrita.
2) Estude em boas gramáticas – aquelas que se baseiam na prática de análises linguísticas.
3) E pratique a escrita.
Se seguir esses passos, acreditamos que em pouco tempo novas trilhas serão abertas em seu cérebro; e por meio delas o pensamento poderá fluir direto da sua cabeça para o papel ou para a tela do computador – com a mesma fluidez que acontece quando você fala. Comece já!
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