Não importa qual seja o meio, sempre há requisitos indispensáveis para a construção de uma boa notícia. Contudo, o que diferencia o jornalismo online dos demais? Quais são suas principais características e vantagens? Entenda neste post!
A internet transformou a maneira de fazer jornalismo, revolucionando o processo desde a produção até a edição. Há várias denominações utilizadas para essa tendência mais atual de produção de notícias, entre as principais estão ciberjornalismo, jornalismo digital, webjornalismo e jornalismo online.
As mudanças têm sido contínuas. O jornalismo online já passou por várias fases. Inicialmente, os sites simplesmente reproduziam as mesmas notícias de suas versões impressas.
Aos poucos, os redatores começaram a experimentar novas possibilidades com o texto. Por exemplo, o uso de links para outras matérias ou diferentes portais e alguns recursos interativos (como espaço para comentários).
O público leitor de notícias online cresceu tanto que os textos começaram a ser criados exclusivamente para o meio digital. A internet passou a ser vista como a grande distribuidora de notícias, ocupando cada vez mais o espaço das outras mídias.
Características do jornalismo online
Essa modalidade de jornalismo apresenta peculiaridades que a diferencia das demais formas de veicular comunicação. O pesquisador Marcos Palacios (UFBA), referência em jornalismo em redes digitais, propõe as seguintes características:
Multimidialidade
A possibilidade de enriquecer o conteúdo da notícia e torná-la ainda mais atrativa, utilizando recursos complementares de diferentes mídias, como vídeos, áudios, ilustrações e infográficos cada vez mais sofisticados e complexos.
Interatividade
Nunca a reação do público foi tão imediata e visível, agregando valores à notícia conforme o número de compartilhamentos, likes e dislikes. Também vale ressaltar a importância do espaço para os comentários – muitos deles se tornam a continuação da própria notícia.
Por exemplo, um site publica uma matéria sobre um hospital que suspende o atendimento pelo SUS. Logo abaixo da notícia, um leitor relata o quanto seu familiar que esperava por atendimento foi prejudicado. Esse depoimento acrescenta força aos fatos narrados.
Hipertextualidade
As notícias online são repletas de links para outros textos. Isso amplia o conteúdo (aprofundando a notícia) e possibilita o acesso não linear às informações. Em vez de ler o “texto corrido”, o leitor pode, quando quiser, clicar em um link que leva a outra página, redirecionando sua leitura. O discurso se torna mais fragmentado. Há um mosaico de informações complementares, que apresenta diferentes ângulos e percepções em relação ao mesmo tema.
Personalização
Muito ligada à característica anterior: com o acesso hipertextual das informações, o leitor não é mais obrigado a seguir uma ordem linear de leitura. Ele escolhe quais links vai acessar, conforme seu próprio interesse, delineando uma leitura personalizada. Diferentemente do jornal impresso que está pronto em suas mãos, na web ele vai navegando pela notícia de maneira não linear, conforme sua própria seleção.
Também nos portais, ele pode fazer um cadastro e selecionar quais tipos de conteúdo deseja receber, conforme seu perfil.
Atualização contínua
O jornal impresso vai para a gráfica à noite para ser distribuído na manhã seguinte; dessa forma, não consegue contemplar as notícias que acontecem, por exemplo, depois das 22h. Por outro lado, o jornal online pode ser atualizado continuamente, trazendo o que há de mais novo em primeira mão. A facilidade de alimentar a web faz com que os leitores saibam dos últimos fatos de maneira quase instantânea.
Memória
A internet, com sua riqueza em mecanismos de busca, forma um imenso banco de dados que disponibiliza rápido acesso a múltiplos arquivos históricos e jornalísticos.
(Ao final deste poste disponibilizaremos um infográfico com as características do jornalismo online citadas acima).
Construção do texto na prática
Todas essas características apresentadas acima estão profundamente interligadas. Vamos ver como elas funcionam na prática, por exemplo, na redação de uma notícia sobre o rompimento da barragem em Brumadinho (MG).
A notícia é constantemente atualizada conforme surgem novas informações sobre o número de vítimas, cálculos de danos ambientais, decisões judiciais e governamentais (característica da atualização contínua).
Na matéria, há um infográfico que mostra como funcionava a barragem (multimídia) e, logo, há um hiperlink que leva a uma explicação técnica sobre o funcionamento de uma barragem de mineração que utiliza o método de alteamento a montante (hipertexto).
A mesma notícia cita tragédia similar que ocorreu há três anos e, nessa parte do texto, há outro hiperlink que abre notícia sobre o desastre de Mariana (MG) – aqui vemos o hipertexto e a memória.
O leitor tem a opção de selecionar esse link e aprofundar seus conhecimentos conforme seu interesse (personalização). Os leitores podem comentar, compartilhar e avaliar com likes e dislikes (interatividade).
Técnicas de redação jornalística para web
Em qualquer que seja o meio de comunicação, o bom jornalismo (rigor na apuração e redação adequada) deve ser mantido. Em outro post, já mostramos como funciona o texto jornalístico.
Como defende o professor Ramón Salaverría (Universidad de Navarra, Espanha), autor do livro Redacción periodística en internet (Eunsa, 2005), o estilo do texto jornalístico não muda, o que muda no ciberjornalismo é a estrutura do texto.
Costuma-se dizer que o texto do jornalismo online está no meio do caminho entre o impresso e a TV. Ele é explicativo, porém mais conciso que o impresso; apresenta a coloquialidade da TV e do rádio, no entanto, com mais detalhes.
Particularidades da estrutura
A grande diferença agora é que o texto tradicional e unitário é substituído por um texto “fragmentado”. Ou seja, a notícia é quebrada em retrancas, boxes, inclusão de links e outras mídias (como vimos no exemplo da notícia sobre o desastre de Brumadinho).
Também não há a restrição de espaço e tempo como nos demais meios. A TV e o rádio lutam contra os minutos; assim como o impresso sofre a limitação do número de linhas na página. Essa liberdade da web traz infinitas possibilidades de contextualizar a matéria e aprofundar o assunto.
O bom lead continua fundamental!
A maioria dos leitores não lê o texto completamente e muitas vezes muda de site já no começo do texto. Por isso, é fundamental contextualizar a informação e saber hierarquizar o que é o mais importante da notícia: sempre iniciar a redação com o aspecto mais relevante. O primeiro parágrafo deve corresponder ao lead jornalístico, que responde às perguntas: o quê, quem, onde e quando.
A nova pirâmide
Em post anterior, explicamos a técnica da pirâmide invertida utilizada no jornalismo impresso, em que a notícia é redigida em ordem decrescente: da informação mais importante para a menos importante.
Essa lógica do jornalismo impresso não faz mais sentido para o jornalismo online, segundo Maura Oliveira Martins, autora do livro Profissão Jornalista – um guia para viver de notícias na próxima década (Intersaberes, 2018): “Como o espaço da web é ilimitado – sobretudo em relação ao limitadíssimo espaço do impresso –, restringir-se à técnica tradicional seria deixar de fazer uso das potencialidades trazidas pelo ciberespaço.”
Para dar conta do novo contexto, João Canavilhas, pesquisador que estuda a narrativa jornalística para web, da Universidade da Beira Interior em Portugal, propõe a pirâmide deitada.
Nesse caso, a pirâmide vai evoluindo em diferentes níveis de leitura, começando com a informação mais atual e importante, passando para os níveis de maior complexidade e aprofundamento do conteúdo.
Unidade base: informações do lead, respondendo às perguntas básicas (o quê, quando, quem e onde).
Nível de explicação: responde às questões seguintes do lead, isto é: como e por quê. Apresenta mais informações e também a fala de especialistas que trazem uma compreensão mais profunda do fato.
Nível de contextualização: agrega mais informações em formatos multimídia, por exemplo, vídeo, áudio ou infográficos.
Nível de exploração: utiliza o hipertexto para ligar a notícia a arquivos externos, como reportagens relacionadas ao tema, links úteis, legislação, páginas do estado em que podem ser feitas denúncias…
Construção do texto na prática
Imagine uma notícia sobre o desabamento de um prédio. O primeiro parágrafo, a unidade base, deve apresentar as informações básicas: qual prédio desabou, quando, onde e informações sobre as vítimas.
O segundo parágrafo corresponde ao nível de explicação. O leitor precisa compreender de que forma aconteceu e quais foram as causas. Aqui, pode-se acrescentar a fala de bombeiros, engenheiros, arquitetos… E também o relato de sobreviventes.
Logo, começa o nível de contextualização, em que a notícia é enriquecida com formatos multimídia: fotos ou algum vídeo que flagre o momento em que o edifício caiu. É possível colocar uma arte, por exemplo, uma ilustração tridimensional que mostre a arquitetura do prédio e como aconteceu o desabamento.
Finalmente, o nível de exploração correspondente à última parte do texto, que apresentará links de sites úteis, como da Defesa Civil e também links para outras reportagens de arquivo de prédios que também desabaram.
A seguir está o infográfico que prometemos com as características principais do jornalismo online:
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