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A obra está completa? O momento da finalização de uma obra – seja ela um texto literário, uma peça musical, uma pintura ou mesmo a construção de uma casa – é sempre carregado de profundo simbolismo. Se considerarmos apenas o exemplo dos textos literários, logo vem à mente uma profusão de cenas muito parecidas, embora oriundas de tantos filmes diferentes que até perdemos a conta:

 

O escritor (ou escritora) digita (ou datilografa) por alguns instantes em seu computador (ou máquina de escrever). Após mais alguns segundos de contemplação silenciosa, por fim ele (ou ela) digita (ou datilografa) a palavra “FIM” em um canto da página. E, então, com um sorriso beatífico, desliga o computador (ou arranca a folha da máquina de escrever).

 

Provavelmente você já viu muitas variações dessa cena em diversos filmes e seriados. Como todo clichê, no entanto, a cena descreve apenas uma situação ideal, que pode estar muito distante da realidade. Como todos que experimentam a aventura de escrever sabem muito bem, uma das coisas mais difíceis é determinar com certeza quando um livro está realmente finalizado.

Talvez, no campo da pintura, essa dificuldade seja mais explícita: como um pintor pode saber qual será a derradeira pincelada na tela? Mas, na verdade, esse é um desafio que está presente em praticamente qualquer tipo de obra. Quando falamos especificamente de produção de texto, que é o tema que aqui nos interessa, as dificuldades não são menores, apenas menos evidentes.

Pensando nisso, apresentamos a seguir algumas dicas e sugestões com a finalidade de ajudar você, que escreve, a detectar com mais segurança e facilidade se um texto pode ou não ser considerado como finalizado.

 

Nem de mais, nem de menos: evitando os extremos na hora de escrever

 

A dificuldade de saber quando “a obra está completa” é, fundamentalmente, um problema de percepção. E esse problema pode ser sintetizado em duas atitudes diametralmente opostas, ambas igualmente equivocadas, que acabam atrapalhando a vida de muitos escritores. Para ajudar a identificar com clareza esses dois equívocos, vamos apresentar dois escritores hipotéticos, João e José, cada qual representando um dos extremos a serem evitados.

 

1) João, o inspirado

João acredita firmemente que o ato da escrita é pura inspiração. Ele só escreve quando se sente “inspirado” e, por isso mesmo, detesta fazer revisões em seus textos. Reescrever um trecho é, para ele, como uma profanação de algo sagrado. Seu lema é: “sempre em frente!”. Dá um livro por terminado quando a inspiração parece minguar. Quando os amigos leem seus textos, costumam comentar (com muito tato) que acharam algumas partes um pouco confusas. João não dá bola para tais críticas: ele sabe que todo gênio é um incompreendido. 

 

2) José, o minucioso

José é um ferrenho defensor da escrita como trabalho duro, e nada mais. Ele se obriga a uma intensa disciplina para escrever, com horários e metas rigidamente definidos. Cada trecho que ele escreve é obsessivamente revisado e reescrito, pois José acredita que nenhum texto minimamente decente pode ser obtido sem muita labuta. Seu lema é: “sempre se pode melhorar!”. É muito raro que considere algum texto bom o suficiente para ser exibido para os amigos. Espera terminar sua obra-prima no decorrer das próximas décadas.

Esses dois perfis, que aparecem de forma propositadamente caricatural, nos ajudam a identificar as falhas de percepção que mais atrapalham os escritores no momento de determinar se uma obra está ou não finalizada. De um lado, temos João, que possui muito pouco senso crítico e aposta todas as suas fichas na “inspiração”. Do outro, temos José, que incorre no erro oposto, causado por um excesso de senso crítico.

Que o caminho do meio conduz à sabedoria todos nós sabemos. Mas como encontrar, nesse caso específico de saber quando um livro está finalizado, essa justa medida?

 

Da primeira redação do texto até a “obra completa”: um roteiro resumido

 

É bem conhecida essa genial tirada de Pablo Neruda, que pode ser considerada o mais sucinto guia de escrita já formulado:

 

“Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias.”

 

Por mais jocosa que a citação seja, podemos seguir sem grandes problemas o conselho de Neruda durante a primeira redação de nosso texto. Existem diversas formas de estruturar um texto (por exemplo, seguindo um roteiro definido ou deixando a narrativa evoluir livremente). Além disso, cada escritor possui os seus próprios métodos de escrita. Para o que estamos considerando aqui, que é a melhor maneira de determinar quando um texto está finalizado, todos esses diferentes métodos e estruturas são igualmente válidos.

De um jeito ou de outro, em algum momento do processo, teremos chegado ao final da primeira redação do texto, que pode ser considerada um rascunho da versão finalizada da obra. É muito raro que um livro esteja pronto e acabado em sua primeira redação. Por isso, geralmente é necessária ao menos uma segunda redação, que é também chamada de revisão do autor.

Como o próprio nome indica, a revisão do autor consiste no processo de aprimoramento da primeira redação. Muitos autores recomendam um período de descanso após o término da primeira redação, quando o texto deve ser deixado de lado para que você possa retornar a ele com a mente mais fresca e alerta. Esse tempo de repouso pode variar de alguns poucos dias a mais de um mês, de acordo com a disponibilidade de cada um e as exigências específicas do próprio texto (por exemplo, prazos de entrega etc.).

A maioria dos manuais de escrita concorda que a revisão de autor implica em diminuir o tamanho do texto. Stephen King, em seu livro “Sobre a Escrita”, chega a citar uma fórmula, em que a segunda redação deveria ter 10% de texto a menos que a primeira. Talvez essa regra fosse aprovada por Carlos Drummond de Andrade, a julgar por sua famosa máxima: “Escrever é a arte de cortar palavras.”

Contudo, aqui cabe um alerta. Essa fórmula talvez seja válida na maioria dos casos, mas não pode e nem deve ser considerada a única maneira de se fazer a segunda redação de um texto. A tendência natural é escrever em excesso na primeira redação, por isso o “corte de palavras” é quase sempre recomendável. Mas pode muito bem acontecer de, durante a revisão de autor, detectarmos omissões que precisam ser supridas, resultando em um aumento no texto original.

Podemos entender isso melhor voltando ao nosso exemplo dos dois tipos de escritor, João e José. A maioria de nós tende a cometer mais falhas do tipo “João”, deixando passar imperfeições e excessos na primeira redação. Mas, em alguns momentos, também podemos atuar equivocadamente como o tipo “José”, burilando demais o texto até privá-lo de leveza e de espontaneidade. A solução para ambos os excessos é a mesma: um período razoável de descanso após o término da primeira revisão, seguido de um olhar atento e o mais livre possível de opiniões preconcebidas durante a revisão de autor.

Eventualmente, pode ser necessária uma terceira ou, até mesmo, uma quarta redação do texto. Isso depende do próprio texto e do processo de escrita de cada um. E, então, chega o grande momento, em que você percebe que não há como retirar mais nada do texto, tampouco é possível lhe acrescentar mais uma só palavra. É nessa hora, enfim, que você pode se permitir um sorriso beatífico antes de dizer: “A obra está completa!”.

O que não significa, é claro, que o trabalho esteja terminado. Esse é o momento em que a produção do texto deixa de ser uma tarefa estritamente individual e que se inicia todo o processo editorial, que vai culminar na publicação do livro. E a primeira etapa dessa fase seguinte costuma ser a revisão profissional do texto.

Quando chegar essa hora, saiba que você sempre pode contar com a Mundo Escrito!

 

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