Coesão Referencial – os erros mais frequentes na revisão de textos

Introdução

Neste quarto artigo a respeito dos erros mais frequentes que aparecem durante a revisão de um texto em Língua Portuguesa, falaremos, primeiro, sobre Coesão Referencial. Em seguida, iremos expor a maneira correta de utilizar pronomes demonstrativos quando houver, no texto, remissões. Caso ainda não tenha visto os artigos anteriores, nós, da Mundo Escrito, sugerimos que dê uma olhada em: Colocação Pronominal, Regência Verbal e Regência Nominal.

Antes de tratarmos especificamente sobre Coesão Referencial, é interessante que tenhamos uma noção quanto ao significado do termo “coesão textual” — dentro do qual a “coesão referencial” está incluída. De uma maneira bastante sucinta, a coesão textual consiste em determinados mecanismos linguísticos de que nos utilizamos (como, por exemplo, pronomes, substantivos, advérbios, conectores etc.) para darmos “liga” às frases ou às orações, a fim de que o texto, como um todo, sustente-se enquanto unidade lógica articulada, ou seja, para que o texto esteja por inteiro conectado, possível de ser facilmente compreendido, sem “elos perdidos” que possam vir a comprometer nossa capacidade de assimilarmos a mensagem a nos ser transmitida.

A equipe de revisão da Mundo Escrito costuma identificar em muitos textos — tanto literários quanto não literários — problemas de coesão referencial. Geralmente, tais problemas estão ligados ao fato de os autores não se atentarem à necessidade de provocar de modo proposital essas referências, o que acaba tornando as produções textuais truncadas ou empobrecidas.

Mas, afinal, você, escritor, sabe o que é a coesão referencial? Nós apostamos que sim, embora, muito provavelmente, não a conheça por esse nome “técnico”. Dentro da coesão textual, a coesão referencial é aquela parte que se refere, como o próprio nome já diz, a algum outro elemento presente, antes ou depois, nas demais frases, orações ou períodos de um mesmo texto. Podemos, então, concluir que, ao fazermos retomadas em um texto, estamos nos apropriando dessa ferramenta linguística. E por que devemos nos preocupar com isso? Para evitarmos repetições desnecessárias que possam comprometer a qualidade da nossa escrita.

Abaixo, mostraremos como a coesão referencial apresenta-se nas produções textuais em Língua Portuguesa. Você, enquanto escritor, pode e deve fazer uso em seus textos de cada tipo de coesão referencial que iremos apresentar a seguir, pois esses mecanismos coesivos trarão maior clareza ao que for escrito, além de ajudar a sofisticar o seu texto e de dar ritmo à leitura. Que tal aprender cada um desses mecanismos de coesão referencial?

Anáfora:

Ocorre quando as referências ou remissões textuais retomam algo que já foi expresso anteriormente no texto.

Exemplos:

Com pronome pessoal de 3ª pessoa: Ana não está em casa. Ela só retornará à tarde.

 

Com pronomes substantivos demonstrativos: Lucas acha que não precisa estudar para tirar uma boa nota na prova, mas Dona Maria não está de acordo com isso.

 

Com pronomes substantivos possessivos: O cheiro do meu perfume é adocicado, e o do seu?

 

Com pronomes substantivos indefinidos: Festas, viagens, roupas e acessórios de luxo. Tudo com dinheiro público desviado.

 

Com pronomes substantivos relativos: Tenho tantos problemas, dentre os quais você é o mais difícil.

 

Com numerais cardinais: Lívia e Vanessa são amigas inseparáveis. As duas cresceram juntas na mesma rua.

 

Com numerais ordinais: Há muitos táxis chegando. Você embarca no primeiro que estacionar, mamãe.

 

Com numerais multiplicativos: Tenho 15 anos. Minha irmã mais velha tem o dobro da minha idade.

 

Com numerais fracionários: Quanto aos bens de papai, ficaram distribuídos assim: dois terços são meus, que sou filha única, e um terço é destinado para obras de caridade.

 

Com advérbios: Soube do que está acontecendo no Pantanal? Lá está havendo vários focos de incêndio.

 

Com expressões adverbiais: Vovô sempre foi muito zeloso. Vovó também: sempre agiu de modo similar.

 

Com verbos: Ela prometeu que se vingaria, lembra? E não é que o fez?

Catáfora:

Ocorre quando o referente aparece depois do recurso coesivo.

Exemplos:

Com pronome oblíquo: Letícia falou-lhe, sobressaltada: Nicole, cuidado para não cair no bueiro!

 

Com pronome substantivo demonstrativo: Filho, você precisa disto: de um cobertor quentinho e de uma boa noite de sono.

 

Com pronome pessoal de 3ª pessoa: E lá jazia ele, descansando eternamente: o grande William Shakespeare.

 

Com advérbios: Venha para cá: para o nosso cantinho.

Substituição:

Ocorre quando há a utilização de referências ou remissões textuais no lugar de outro elemento do texto — ou até mesmo de uma oração inteira, às vezes.

Exemplos:

O Sol faz com que todos os demais corpos celestes de nosso Sistema orbitem ao seu redor. A esfera flamejante de nosso Sistema Solar está distante da Terra a cerca de 150 milhões de quilômetros. A estrela é composta primariamente por hidrogênio e hélio, com traços de alguns outros elementos, como ferro e enxofre, por exemplo. O Astro-Rei é fundamental, com o calor que emana, para que haja vida em nosso planeta.

 

Regina vai todas as manhãs ao trabalho pedalando. Caio faz o mesmo.

 

Aquiles e Heitor são célebres heróis da tradição grega. Ambos são personagens de destaque na Ilíada, de Homero.

Repetição:

Ocorre quando há a repetição ou reiteração proposital de algum elemento referencial no texto.

Exemplos:

Todos sabem que a vida é feita de tristezas e de alegrias. Todos compreendem que não há felicidade que dure para sempre. Todos também entendem, lá no fundo, que nenhum sofrimento é eterno.

 

Mariah Carey é uma cantora de sucesso. Carey possui dezenove hits número 1 na parada da Billboard Hot 100, sendo a única artista solo a atingir tal feito.

Elipse:

Ocorre quando há a omissão proposital de algum elemento que já foi exposto anteriormente dentro do texto, a fim de que não ocorram repetições desnecessárias.

Exemplos:

Eu entrei em casa às onze. (Ɵ) Deixei as chaves do carro na mesinha da sala e (Ɵ) fui direto para o quarto, dando passadas leves.

— Bônus —

Uso Correto de Pronomes Demonstrativos para Fazer Referências:

Caso o pronome demonstrativo queira se referir a algo que ainda será falado (isto é, caso seja catafórico), então aparecerá nas seguintes formas: este(s), esta(s), isto.

Exemplos:

O que importa é isto: ser feliz com as pequenas coisas da vida.

 

A fórmula do sucesso é esta: trabalhar duro e perseverar, mesmo diante das adversidades do destino.

 

Caso o pronome demonstrativo se refira a algo que já foi falado anteriormente (isto é, caso seja anafórico), então aparecerá nas seguintes formas: esse(s), essa(s), isso.

Exemplos:

Você diz que não gosta mais de mim, mas isso é mentira.

 

Violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho: são essas as cores do arco-íris.

Agora, queremos ouvi-lo.  😉  Deixe seu comentário abaixo e avise-nos caso tenha ficado com alguma dúvida. Comente também se você gostou deste conteúdo e se deseja ler mais textos assim. Sua opinião é muito valiosa para nós.